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segunda-feira, 7 de junho de 2010

Filme - Sob o céu do Líbano



Como uma flor cresce entre as pedras uma história de amor pode nascer em meio ao ódio. Este é o tema central do belo filme, sob o céu do lìbano. O pano de fundo é a fronteira entre o Líbano e Israel, território onde, a partir de 1948, foi demarcado pela ONU para a formação de um Estado judeu entre as nações árabes. Durante décadas, essa área foi palco de intensos conflitos entre os países da liga árabe e o Estado israelenses, sempre apoiados pelas potências ocidentais, principalmente os EUA, que tem grande interesse econômico na região.
Com isso, o Estado sionista, através de sua superioridade bélica, tem conseguido rechaçar toda ação militar contra as suas defesas e, por isso, o governo sob constante vigilância seus limites territoriais e impõe o mais absoluto terror aos refugiados palestinos.
Em meio a esse turbilhão de ódio, dois jovens, vivendo em lados opostos sonham viver uma história de amor. A bela e destemida moça vive em um campo de refugiado palestino e sua família vai todos os dias a fronteira para, através de um megafone, comunicar-se com seus parentes e amigos do outro lado do cerco. Em um belo dia ela cruza olhares com um soldado israelense de plantão na guarita e ambos apaixonam-se. Mesmo prometida para um primo Lâmia decide tentar viver esse amor impossível.
O belo filme apresenta uma outra face da guerra não mostrada nos telejornais, que são as tragédias pessoais, isto é, famílias inteiras separadas pelos muros construídos pelos judeus, onde os recentes ataques judeus aos navios que levavam mantimentos para os refugiados palestinos demonstra o quanto esta guerra é desigual e uma abordagem romântica do conflito tende a tornar-se cada vez mais artificial.

Filme - Ágora

 
No final do século IV, o império romano estava a beira do colapso. Alexandria, uma província no Egito, ainda conservava seu esplendor. Seguindo a tradição herdada da polis grega Atenas do período clássico, ela abrigava a maior biblioteca do mundo e, por isso, era o centro de valorização e disseminação do conhecimento adquirido a partir da filosofia.
O filme retrata o momento de transição ocorrido com o fortalecimento da fé católica em detrimento do saber filosófico. Como acontece em momentos de ruptura, conflitos tornam-se cada vez mais eminentes, bastando apenas que alguém acenda o estopim para que inicie guerras, que em alguns casos atravessam gerações.
No momento de sua expansão, o catolicismo surgiu como uma alternativa aos cultos pagãos e com seu dogmatismo, não demorou a atrair milhares de seguidores por todo o império romano.
Todo esse processo pode ser entendido através do contexto político da época. Roma adotara o cristianismo como última alternativa de unificação do império em torno de uma religião única. Logo esta tentativa foi apreendida pelas tribos bárbaras que adotaram o catolicismo como religião oficial e a medida que iam anexando territórios, a nova fé também ganhava novos seguidores.
O símbolo de resistência e amor a sabedoria, em Alexandria, foi Hypatia. Uma mulher valente e destemida que lutou até a morte para manter viva a chama do conhecimento na sociedade. Apoiada pelas teorias que antecederam o seu tempo, como Ptolomeu, ela conseguiu reordenar o movimento dos corpos celestes, teoria esquecida pela igreja e que homem foi redescobrir apenas séculos mais tarde.
O enredo do filme corrobora com os ensinamentos difundidos a partir do renascimento, onde o período dominado pelos dogmas católicos foi denominado idade das trevas. Apesar de muitos historiadores apresentarem teses combatendo essas ideias, ela ainda não foi descartada. O fato dos textos guardados na biblioteca de Alexandria terem sido destruídos pelos católicos, que se não aconteceu de fato pode ser encarado como um ato simbólico, onde todo conhecimento historicamente adquirido perde seu valor frente a fé cega.
Enfim, o filme é ótimo, apresenta excelente fotografia e demonstra toda a beleza de uma sociedade desenvolvida em torno do amor ao conhecimento.